Mensagem de boas vindas


quinta-feira, 24 de julho de 2014

PROMETER


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PROMETER
Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção
II Pedro (2, 19).
É indispensável desconfiar de todas as promessas de facilidades sobre o mundo.
Jesus, que podia abrir os mais vastos horizontes aos olhos assombrados da criatura, prometeu-lhe a cruz sem a qual não poderia afastar-se da Terra para colocar-se ao seu encontro.
Em toda parte, existem discípulos descuidados que aceitam o logro de aventureiros inconscientes. É que ainda não aprenderam a lição viva do trabalho próprio a que foram chamados para desenvolver atividade particular.
Os fazedores de revoluções e os donos de projetos absurdos prometem maravilhas. Mas, se são vítimas da ambição, servos de propósitos inferiores, escravos de terríveis enganos, como poderão realizar para os outros a liberdade ou a elevação de que se conservam distantes?
Não creias em salvadores que não demonstrem ações que confirmem a salvação de si mesmos.
Deves saber que foste criado para gloriosa ascensão, mas que só é fácil descer. Subir exige trabalho, paciência, perseverança, condições essenciais para o encontro do amor e da sabedoria.
Se alguém te fala em valor das facilidades, não acredites; é possível que o aventureiro esteja descendo. Mas quando te façam ver perspectivas consoladoras, através do suor e do esforço pessoal, aceita os alvitres com alegria. Aquele que compreende o tesouro oculto nos obstáculos, e dele se vale para enriquecer a vida, está subindo e é digno de ser seguido.
MINHA REFLEXÃO
Evoluir, eis uma tarefa árdua, sofrida, mas gratificante, pela beleza que deve ser olhar do alto, não como orgulho ostensivo, mas por se sentir mais próximo do Pai.
As dificuldades da subida nos permite perceber o quanto somos pequenos, querendo ser grandes. Querendo ser grandes, caímos e sentimos a queda da ingratidão, solidão, incompreensão, do vazio de ser e de não ter.
A aflição, bem sentida, no sentido evangélico, é o encontro consigo mesmo, com a pessoal história espiritual. É o momento de perceber que há algo mais acima de nós. É o momento de subir, sabendo que subir não é fácil. Uns dos instrumentos que auxiliam nessa subida é a paciência e a resignação. Segundo o Espírito Lázaro, “A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração, forças ativas ambas, porquanto carregam o fardo das provações que a revolta insensata deixa cair” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IX, item 8).
Então, é importante descomprometer-se com promessas vazias dos que ganham com a necessidade e dor daqueles que os procuram.
Que sejamos firmes e fortes na subida para que ela seja o menos difícil possível e a queda menos fácil.
Que Deus nos ajude.
Domício.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

CAPAS

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CAPAS
E ele, lançando de si a sua capa, levantou-se e foi ter com Jesus.
(Marcos, 10: 50.)
O Evangelho de Marcos apresenta interessante notícia sobre a cura de Bartimeu, o cego de Jericó.
Para receber a bênção da divina aproximação, lança fora de si a capa, correndo ao encontro do Mestre, alcançando novamente a visão para os olhos apagados e tristes.
Não residirá nesse ato precioso símbolo?
As pessoas humanas exibem no mundo as capas mais diversas. Existem mantos de reis e de mendigos. Há muitos amigos do crime que dão preferência a “capas de santos”. Raros os que não colam ao rosto a máscara da própria conveniência. Alega-se que a luta humana permanece repleta de requisições variadas, que é imprescindível atender à movimentação do século; entretanto, se alguém deseja sinceramente a aproximação de Jesus, para a recepção de benefícios duradouros, lance fora de si a capa do mundo transitório e apresente-se ao Senhor, tal qual é, sem a ruinosa preocupação de manter a pretensa intangibilidade dos títulos efêmeros, sejam os da fortuna material ou os da exagerada noção de sofrimento. A manutenção de falsas aparências, diante do Cristo ou de seus mensageiros, complica a situação de quem necessita. Nada peças ao Senhor com exigências ou alegações descabidas. Despe a tua capa mundana e apresenta-te a Ele, sem mais nem menos.
MINHA REFLEXÃO
Temos muitas capas que nos impedem de se aproximar do Mestre Amigo. Até dos seus mensageiros elas nos afastam.
Nossos melindres, nossa incapacidade de perceber o mal que fazemos ao outro, tudo que nos coadunam com a atual natureza humana, desse planeta, nos afastam até de quem temos muita afeição[1]. Não é que sejamos maus, é que ainda alimentamos, em nós, um grande mal: o egoísmo – a capa mais espessa e pesada que levamos grudada, grudada mesma, em nós.
Precisamos nos desfazer das capas mundanas enquanto temos tempo, pois a escolha está próxima. Sejamos que nem o cego de Jericó: se queremos ser beneficiados por Jesus, esqueçamos de nós e deixemos ele agir sobre nós. O conhecimento de seus ensinos deve penetrar em nosso íntimo, pois nos protege de mágoas descabidas, de tristezas desnecessárias, de decepções e ingratidões comuns a todos nós.
A vida é curta, todos dizem, sem se ater da eternidade que é a verdadeira vida: a espiritual. Podemos comparar a vida física como um rio que desemboca no mar. Quem sai do rio, sem o devido preparo, se perde na imensidão que é o mar.
Que possamos aproveitar passagem do Cristo em nossa vida pelo conhecimento de seus ensinamentos teórico-práticos que já adquirimos através da Doutrina Espírita que abraçamos, que nada mais é que sua Boa Nova rediviva em nossos corações, e, assim, tornarmos mais leves, destituídos das capas que carregamos sobre nós, há séculos, como se fossem um apêndice natural de nosso corpo.
Que Deus nos ajude.
Domício.


[1] Paulo (7: 14-20). Sabemos, de fato, que a lei é espiritual, mas eu sou carnal, vendido ao pecado. não entendo, absolutamente, o que faço; pois não faço o que quero; faço o que aborreço. E, se faço o que não quero reconheço que a Lei é boa. Mas então, não sou eu que o faço, mas o pecado que em mim habita. Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem; porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim habita.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

AMAS O BASTANTE?

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AMAS O BASTANTE?
Perguntou-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me?
João (21: 17.)
Aos aprendizes menos avisados é estranhável que Jesus houvesse indagado do apóstolo, por três vezes, quanto à segurança de seu amor. O próprio Simão Pedro, ouvindo a interrogação repetida, entristecera-se, supondo que o Mestre suspeitasse de seus sentimentos mais íntimos.
Contudo, o ensinamento é mais profundo.
Naquele instante, confiava-lhe Jesus o ministério da cooperação nos serviços redentores. O pescador de Cafarnaum ia contribuir na elevação de seus tutelados do mundo, ia apostolizar, alcançando valores novos para a vida eterna.
Muito significativa, portanto, a pergunta do Senhor nesse particular. Jesus não pede informação ao discípulo, com respeito aos raciocínios que lhe eram peculiares, não deseja inteirar-se dos conhecimentos do colaborador, relativamente a Ele, não reclama compromisso formal. Pretende saber apenas se Pedro o ama, deixando perceber que, com o amor, as demais dificuldades se resolvem. Se o discípulo possui suficiente provisão dessa essência divina, a tarefa mais dura converte-se em apostolado de bênçãos promissoras.
É imperioso, desse modo, reconhecer que as tuas conquistas intelectuais valem muito, que tuas indagações são louváveis, mas em verdade somente serás efetivo e eficiente cooperador do Cristo se tiveres amor.
MINHA REFLEXÃO
Amar o Mestre, em última análise, é um ato de inteligência. Sobretudo um ato de amor a Deus e, particularmente, um amor a si mesmo.
Aquele se compromete com a religiosidade sentida (como um compromisso de melhoria espiritual e identidade religiosa) é chamado a ser melhor que si mesmo, todo dia, seja na relação conjugal, paternal/filial/fraternal, ou mesmo na relação social/trabalho.
Amar o Mestre significa amar incondicionalmente, trabalhar pela própria reforma íntima, divulgar seus ensinamentos em atos e pensamento, vive-los na intimidade espiritual. É buscar a perfeição espiritual. É trabalhar para ser um homem de bem, um bom espírita[1]. Dessa forma, divulgamos sua Boa Nova, teorizando e praticando, como Ele o fez.
Deus, Nosso Pai, enviou seu Filho amado para nos assegurar elementos intelectuais e espirituais, reafimar sua Lei, já gravada em nossa consciência[2].
Então, que sigamos Seu exemplo, pois a pergunta que Ele fez a Pedro, pode ser remetida a nós que nos identificamos com seus ensinamentos.
Que Deus nos ajude.
Domício.



[1]  "Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más" (Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap.XVII, Item 4).
[2]O Livro dos Espíritos, questão 621. Onde está escrita a lei de Deus? Resp. Na consciência.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

A COROA

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A COROA
E vestiram-no de púrpura, e tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça.
Marcos (15: 17)
Quase incrível o grau de invigilância da maioria dos discípulos do Evangelho, na atualidade, ansiosos pela coroa dos triunfos mundanos. Desde longo tempo, as Igrejas do Cristianismo deturpado se comprazem nos grandes espetáculos, através de enormes demonstrações de força política. E forçoso é reconhecer que grande número das agremiações espiritistas cristãs, ainda tão recentes no mundo, tendem às mesmas inclinações.
Individualmente, os prosélitos pretendem o bem-estar, o caminho sem obstáculos, as considerações honrosas do mundo, o respeito de todos, o fiel reconhecimento dos elevados princípios que esposaram na vida, por parte dos estranhos. Quando essa bagagem de facilidades não os bafeja no serviço edificante, sentem-se perseguidos, contrariados, desditosos.
Mas... e o Cristo? Não bastaria o quadro da coroa de espinhos para atenuar-nos a inquietação?
Naturalmente que o Mestre trazia consigo a Coroa da Vida; entretanto, não quis perder a oportunidade de revelar que a coroa da Terra ainda é de espinhos, de sofrimento e trabalho incessante para os que desejem escalar a montanha da Ressurreição Divina. Ao tempo em que o Senhor inaugurou a Boa Nova entre os homens, os romanos coroavam-se de rosas; mas, legando-nos a sublime lição, Jesus dava-nos a entender que seus discípulos fiéis deveriam contar com distintivos de outra natureza.
MINHA REFLEXÃO
Essa mensagem nos faz pensar o quanto ainda somos carentes do reconhecimento dos homens. Somos ainda muito melindrosos. Entendemos que já fazemos, ou fizemos, grandes coisas e por isso merecemos o respeito daqueles que nos cobram retidão e não nos creditam confiança.
O Cristo possibilitou que lhes dessem uma coroa de espinhos. Ele é Rei, mas nasceu na manjedoura. Foi-lhe questionado sobre sua realeza ante os judeus e para caçoá-lo lhes deram uma coroa de espinho.
A realeza de Jesus não era desse mundo[1], mas a estava implantando nele. A partir daquele momento, a pedra filosofal estava devidamente inaugurada. Foi para isso que ele desceu até nós, pois acreditava que já estávamos suficientemente maduros para receber suas deliberações monárquicas. A Lei do Pai, o Rei Supremo, ao qual estava submetido, foi ratificada ao povo[2]. Apesar de esperar que todos aos poucos iriam se adaptar à Lei, deixou-a impressa em sua jornada por aqui, através de exemplos coerentes com Ela.
Seus mensageiros deveriam mais tarde imprimi-la, em papel, para assim ser divulgada por todo o Reino. Sabendo que não seria aceita por muito, deixou o exemplo da imolação, sem reclamação, para que os emissários não se desfalecessem, quando chamados aos sacrifícios.[3] E assim, foi.
Que sejamos dignos da coroa que nos puserem.
Que Deus e Mestre Jesus nos ajudem.
Domício.



[1] Pilatos, tendo entrado de novo no palácio e feito vir Jesus à sua presença, perguntou-lhe: És o rei dos judeus? - Respondeu-lhe Jesus: Meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, a minha gente houvera combatido para impedir que eu caísse nas mãos dos judeus; mas, o meu reino ainda não é aqui. Disse-lhe então Pilatos: És, pois, rei? - Jesus lhe respondeu: Tu o dizes; sou rei; não nasci e não vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade. Aquele que pertence a verdade escuta a minha voz. (João, 18: 33, 36 e 37.)
[2] Nós fomos criados com as Leis gravadas em nossa consciência e, naquela época, o Decálogo já era conhecido pelos judeus, via Moisés.
[3] Aquele que me confessar e me reconhecer diante dos homens, eu também o reconhecerei e confessarei diante de meu Pai que está nos céus; - e aquele que me renegar diante dos homens, também eu o renegarei diante de meu Pai que está nos céus. - (Mateus, 10: 32 e 33.)
Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do Homem também dele se envergonhará, quando vier na sua glória e na de seu Pai e dos santos anjos. (Lucas, 9: 26.)
No O Evangelho Segundo o Espiritismo (capítulos 2 e 24), Allan Kardec cuida de explicar as passagens evangélicas aqui grafadas.

terça-feira, 1 de julho de 2014

O AMIGO OCULTO

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O AMIGO OCULTO
Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem.
LUCAS (24: 16)
Os discípulos, a caminho de Emaús, comentavam, amargurados, os acontecimentos terríveis do Calvário.
Permaneciam sob a tormenta da angústia. A dúvida penetrava-lhes a alma, levando-os ao abatimento, à negação.
Um homem desconhecido, porém, alcançou-os na estrada. Oferecia o aspecto de mísero peregrino. Sem identificar-se, esclareceu as verdades da Escritura, exaltou a cruz e o sofrimento.
Ambos os companheiros, que se haviam emaranhado no cipoal de contradições ingratas, experimentaram agradável bem-estar, ouvindo a argumentação confortadora.
Somente ao termo da viagem, em se sentindo fortalecidos no tépido ambiente da hospedaria, perceberam que o desconhecido era o Mestre.
Ainda existem aprendizes na “estrada simbólica de Emaús”, todos os dias. Atingem o Evangelho e espantam-se em face dos sacrifícios necessários à eterna iluminação espiritual. Não entendem o ambiente divino da cruz e procuram “paisagens mentais” distantes... Entretanto, chega sempre um desconhecido que caminha ao lado dos que vacilam e fogem. Tem a forma de um viandante incompreendido, de um companheiro inesperado, de um velho generoso, de uma criança tímida. Sua voz é diferente das outras, seus esclarecimentos mais firmes, seus apelos mais doces.
Quem partilha, por um momento, do banquete da cruz, jamais poderá olvidá-la. Muitas vezes, partirá mundo a fora, demorando-se nos trilhos escuros; no entanto, minuto virá em que Jesus, de maneira imprevista, busca esses viajores transviados e não os desampara enquanto não os contempla, seguros e livres, na hospedaria da confiança.
MINHA REFLEXÃO
Somos todos viajores da estrada da incredulidade. A falta de fé e o desânimo nos abatem enquanto caminhamos, sem, contudo, ser pela estrada da Vida: o Mestre Jesus.
Todavia, Ele nos aparece em átimos de iluminação internos, quando nos deixamos enlevar pelos seus ensinos e reconhecemos sua Verdade dita por algum ser humano ou paisagem singela da natureza.
O Mestre e os bons Espíritos nos falam através daqueles que se deixam levar pelos bons pensamentos, quando se acham na condição de servos incondicionais. Os recados são dados e caímos em si pela beleza dos ensinamentos.
Nunca estamos a sós, mesmo desacompanhados. Dependendo da natureza de nossos pensamentos, ou merecimentos, recebemos, de amigos ou inimigos da espiritualidade, os recados que precisamos receber com vistas ao nosso melhoramento espiritual.
Que não sejamos mensageiros das trevas, mas sempre da luz.
Que saibamos reconhecer como um bem, sejam de amigos ou inimigos, os recados do mundo invisível. Deus está velando por nós o tempo todo e se recebemos o recado é que merecemos ouvir.
Que Eles nos ajudem a compreender os recados da  espiritualidade.[i]
Domício.


[i] O Livro dos Espíritos – Questão 459. Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos? - Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.