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A COROA
E vestiram-no de
púrpura, e tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça.
Marcos
(15: 17)
Quase incrível o grau de
invigilância da maioria dos discípulos do Evangelho, na atualidade, ansiosos
pela coroa dos triunfos mundanos. Desde longo tempo, as Igrejas do Cristianismo
deturpado se comprazem nos grandes espetáculos, através de enormes
demonstrações de força política. E forçoso é reconhecer que grande número das
agremiações espiritistas cristãs, ainda tão recentes no mundo, tendem às mesmas
inclinações.
Individualmente, os
prosélitos pretendem o bem-estar, o caminho sem obstáculos, as considerações
honrosas do mundo, o respeito de todos, o fiel reconhecimento dos elevados
princípios que esposaram na vida, por parte dos estranhos. Quando essa bagagem
de facilidades não os bafeja no serviço edificante, sentem-se perseguidos,
contrariados, desditosos.
Mas... e o Cristo? Não
bastaria o quadro da coroa de espinhos para atenuar-nos a inquietação?
Naturalmente que o Mestre
trazia consigo a Coroa da Vida; entretanto, não quis perder a oportunidade de
revelar que a coroa da Terra ainda é de espinhos, de sofrimento e trabalho
incessante para os que desejem escalar a montanha da Ressurreição Divina. Ao
tempo em que o Senhor inaugurou a Boa Nova entre os homens, os romanos
coroavam-se de rosas; mas, legando-nos a sublime lição, Jesus dava-nos a
entender que seus discípulos fiéis deveriam contar com distintivos de outra
natureza.
MINHA REFLEXÃO
Essa mensagem nos faz pensar
o quanto ainda somos carentes do reconhecimento dos homens. Somos ainda muito
melindrosos. Entendemos que já fazemos, ou fizemos, grandes coisas e por isso
merecemos o respeito daqueles que nos cobram retidão e não nos creditam
confiança.
O Cristo possibilitou que
lhes dessem uma coroa de espinhos. Ele é Rei, mas nasceu na manjedoura. Foi-lhe
questionado sobre sua realeza ante os judeus e para caçoá-lo lhes deram uma
coroa de espinho.
A realeza de Jesus não era
desse mundo[1],
mas a estava implantando nele. A partir daquele momento, a pedra filosofal
estava devidamente inaugurada. Foi para isso que ele desceu até nós, pois
acreditava que já estávamos suficientemente maduros para receber suas
deliberações monárquicas. A Lei do Pai, o Rei Supremo, ao qual estava
submetido, foi ratificada ao povo[2]. Apesar de esperar que
todos aos poucos iriam se adaptar à Lei, deixou-a impressa em sua jornada por
aqui, através de exemplos coerentes com Ela.
Seus mensageiros deveriam
mais tarde imprimi-la, em papel, para assim ser divulgada por todo o Reino.
Sabendo que não seria aceita por muito, deixou o exemplo da imolação, sem
reclamação, para que os emissários não se desfalecessem, quando chamados aos
sacrifícios.[3]
E assim, foi.
Que sejamos dignos da coroa
que nos puserem.
Que Deus e Mestre Jesus nos
ajudem.
Domício.
[1]
Pilatos, tendo entrado de novo
no palácio e feito vir Jesus à sua presença, perguntou-lhe: És o rei dos
judeus? - Respondeu-lhe Jesus: Meu reino não é deste mundo. Se o meu reino
fosse deste mundo, a minha gente houvera combatido para impedir que eu caísse
nas mãos dos judeus; mas, o meu reino ainda não é aqui. Disse-lhe então Pilatos:
És, pois, rei? - Jesus lhe respondeu: Tu o dizes; sou rei; não nasci e não vim
a este mundo senão para dar testemunho da verdade. Aquele que pertence a
verdade escuta a minha voz. (João, 18: 33, 36 e 37.)
[2] Nós fomos criados com as Leis
gravadas em nossa consciência e, naquela época, o Decálogo já era conhecido
pelos judeus, via Moisés.
[3] Aquele que me confessar e me
reconhecer diante dos homens, eu também o reconhecerei e confessarei diante de
meu Pai que está nos céus; - e aquele que me renegar diante dos homens, também
eu o renegarei diante de meu Pai que está nos céus. - (Mateus, 10: 32 e 33.)
Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o
Filho do Homem também dele se envergonhará, quando vier na sua glória e na de seu
Pai e dos santos anjos. (Lucas, 9: 26.)
No
O Evangelho Segundo o Espiritismo (capítulos 2 e 24), Allan Kardec cuida de
explicar as passagens evangélicas aqui grafadas.
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