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CONVÉM REFLETIR
Mas todo homem seja
pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. (Tiago, 1: 19).
Analisar, refletir, ponderar são
modalidades do ato de ouvir.
É indispensável que a criatura
esteja sempre disposta a identificar o sentido das vozes, sugestões e situações
que a rodeiam.
Sem observação, é impossível
executar a mais simples tarefa no ministério do bem. Somente após ouvir, com
atenção, pode o homem falar de modo edificante na estrada evolutiva.
Quem ouve, aprende. Quem fala,
doutrina. Um guarda, outro espalha.
Só aquele que guarda, na boa experiência,
espalha com êxito.
O conselho do apóstolo é,
portanto, de imorredoura oportunidade.
E forçoso é convir que, se o
homem deve ser pronto nas observações e comedido nas palavras, deve ser tardio
em irar-se.
Certo, o caminho humano
oferece, diariamente, variados motivos à ação enérgica; entretanto, sempre que
possível, é útil adiar a expressão colérica para o dia seguinte, porquanto, por
vezes, surge a ocasião de exame mais sensato e a razão da ira desaparece.
Tenhamos em mente que todo
homem nasce para exercer uma função definida. Ouvindo sempre, pode estar certo
de que atingirá serenamente os fins a que se destina, mas, falando, é possível
que abandone o esforço ao meio, e, irando-se, provavelmente não realizará coisa
alguma.
MINHA
REFLEXÃO
Esses três verbos, ouvir,
falar e irar, estão muito ligados na relação humana, pois são ações que dão
qualidade a um relacionamento, seja de qualquer tipo.
Depende deles a união ou
desunião, a sintonia ou a cisão, a paz ou a conturbação, a concretização ou a
desistência de um projeto.
Disse Chico Xavier, certa vez,
que seria preferível ser magoado a magoar; desejou Francisco de Assis, em outro
momento, que aprendesse a perdoar a ser perdoado, que aprendesse a compreender
a ser compreendido (Oração de São Francisco). Jesus nos ensinou que deveríamos
perdoar para sermos perdoados por Deus (Oração Dominical).
Jesus nos ensinou que se uma
pessoa nos levasse a caminhar uma légua, que caminhássemos duas com ela.
Aprender a ouvir e a falar,
são necessidades imediatas do ser humano que evitam a cólera tão natural
naquele que egoisticamente não aceita ser retrucado em sua fala ou opinião.
Muito belo, esse pensamento de
Emmanuel: “E forçoso é convir que, se o homem deve ser pronto nas observações e
comedido nas palavras, deve ser tardio em irar-se”.
Ouvir mais e falar menos é a
chave do sucesso de toda relação humana, é a prevenção da cólera.
O silêncio de si mesmos nos
conduz à serenidade e à paz.
A brandura, a paciência e a
amabilidade são virtudes que devemos cultivar em nossa vida se quisermos ser
bem-aventurados, conforme nos ensinou Jesus no Sermão do Monte:
Bem-aventurados os que são brandos, porque
possuirão a Terra. (S. MATEUS, cap. V, v. 4.)
Bem-aventurados os pacíficos, porque serão
chamados filhos de Deus. (Id., v.9.)
Sabeis que foi dito aos antigos: Não
matareis e quem quer que mate merecerá condenação pelo juízo. – Eu, porém, vos
digo que quem quer que se puser em cólera contra seu irmão merecerá condenado
no juízo; que aquele que disser a seu irmão: Raca, merecerá condenado pelo
conselho; e que aquele que lhe disser: És louco, merecerá condenado ao fogo do
inferno. (Id., vv. 21 e 22.)
Como somos desavisados ao
dizer impropérios aos nossos semelhantes, porque não aceitamos seu modo de ser,
seu estágio evolutivo. O orgulho fala mais alto nessa hora, como nos ensina o
Espírito Protetor em O Evangelho Segundo o Espiritismo (Capítulo 9, Item 9)[1]. A raiva, a indignação,
nos fazem descer a níveis vibratórios, os mais baixos possíveis. É quando não
temos mais ouvidos e nem cérebros para ouvir e analisar. Prevalece a língua que
nos representa muito bem na escala espiritual. Revelamo-nos, assim, a partir de
um único órgão e deixamos de aprender com a dificuldade do outro.
Como seria bom se tivéssemos
sempre, a mão, um copo de água para abrandar nossa língua que fala tanto...
Que possamos possuir a Terra;
que possamos vir a ser chamado Filhos de Deus.
Que Deus nos ajude.
Domício.
[1]
“Pesquisai a origem desses
acessos de demência passageira que vos assemelham ao bruto, fazendo-vos perder
o sangue-frio e a razão; pesquisai e, quase sempre, deparareis com o orgulho
ferido. Que é o que vos faz repelir, coléricos, os mais ponderados conselhos,
senão o orgulho ferido por uma contradição? Até mesmo as impaciências, que se
originam de contrariedades muitas vezes pueris, decorrem da importância que
cada um liga à sua personalidade, diante da qual entende que todos se devem
dobrar. Em seu frenesi, o homem colérico a tudo se atira: à natureza bruta, aos
objetos inanimados, quebrando-os porque lhe não obedecem. Ah! se nesses
momentos pudesse ele observar-se a sangue-frio, ou teria medo de si próprio, ou
bem ridículo se acharia! Imagine ele por aí que impressão produzirá nos outros.
Quando não fosse pelo respeito que deve a si mesmo, cumpria-lhe esforçar-se por
vencer um pendor que o torna objeto de piedade”. Um Espírito protetor.
(Bordéus, 1863.)