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ESTIMA DO MUNDO
Se chamaram Belzebu
ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?
Jesus.
Mateus
(10: 25.)
Muitos discípulos do
Evangelho existem, ciosos de suas predileções e pontos de vista, no campo
individual.
Falsas concepções
ensombram-lhes o olhar.
Quase sempre se inquietam
pelo reconhecimento público das virtudes que lhes exornam o caráter, guardam o
secreto propósito de obter a admiração de todos e sentem-se prejudicados se as
autoridades transitórias do mundo não lhes conferem apreço.
Agem esquecidos de que o
Reino de Deus não vem com aparência exterior; não percebem que, por enquanto,
somente os vultos destacados, nas vanguardas financeiras ou políticas,
arvoram-se em detentores de prerrogativas terrestres, senhores quase absolutos
das homenagens pessoais e dos necrológios brilhantes.
Os filhos do Reino Divino
sobressaem raramente e, de modo geral, enchem o mundo de benefícios sem que o
homem os veja, à feição do que ocorre com o próprio Pai.
Se Jesus foi chamado
feiticeiro, crucificado como malfeitor e arrebatado de sua amorosa missão para
o madeiro afrontoso, que não devem esperar seus aprendizes sinceros, quando
verdadeiramente devotados à sua causa?
O discípulo não pode ignorar que a
permanência na Terra decorre da necessidade de trabalho proveitoso e não do uso
de vantagens efêmeras que, em muitos casos, lhe anulariam a capacidade de
servir. Se a força humana torturou o Cristo, não deixará de torturá-lo também.
É ilógico disputar a estima de um mundo que, mais tarde, será compelido a regenerar-se
para obter a redenção.
MINHA
REFLEXÃO
O Cristo nos exortou a
separar bem os nossos deveres: aqueles para com o mundo e os outros para com
Deus[1]. Nessa passagem, somos
ensinados a fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem (KARDEC, A. in:
O Evang. Segundo o Espiritismo, cap. XI, Itens 6 e 7 .
Também podemos nos amparar
no Cristo que nos ensinou a dar valor a vida futura, e, portanto, cumprir
nossos deveres consonantes a nossa liberdade e compromisso com a nossa
evolução.[2]
Não podemos, em termos de
evolução espiritual, nos preocuparmos com a estima do mundo, mas com a estima
de Deus, que é o único que, verdadeira e absolutamente, nos julga em, nossas
ações. A vida física é passageira e tem um objetivo primeiro, que encontramos
em O Livro dos Espíritos, questão 132, qual seja:
132. Qual o objetivo da encarnação dos
Espíritos?
Deus lhes impõe a encarnação com o fim
de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas,
para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da
existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a
encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca
na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento,
de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele
ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral,
ele próprio se adianta.
A ação dos seres corpóreos é
necessária à marcha do Universo. Deus, porém, na Sua sabedoria, quis que nessa
mesma ação eles encontrassem um meio de progredir e de se aproximar Dele. Deste
modo, por uma admirável lei da Providência, tudo se encadeia, tudo é solidário
na Natureza.
Então, devemos estimar o
mundo, na medida que ele nos oferece oportunidades de progresso espiritual, nos
afastando de valorizar tão somente os lauréis que eles nos oportunizam.
Sejamos Cristãos...
Que Deus nos ajude.
Domício
[1]
Os
fariseus, tendo-se retirado, entenderam-se entre si para enredá-lo com as suas
próprias palavras. - Mandaram então seus discípulos, em companhia dos
herodianos, dizer-lhe: Mestre, sabemos que és veraz e que ensinas o caminho de
Deus pela verdade, sem levares em conta a quem quer que seja, porque, nos
homens, não consideras as pessoas. Dize-nos, pois, qual a tua opinião sobre
isto: É-nos permitido pagar ou deixar de pagar a César o tributo? Jesus, porém,
que lhes conhecia a malícia, respondeu: Hipócritas, por que me tentais?
Apresentai-me uma das moedas que se dão em pagamento do tributo. E, tendo- lhe
eles apresentado um denário, perguntou Jesus: De quem são esta imagem e esta
inscrição? - De César, responderam eles. Então, observou-lhes Jesus: Dai, pois,
a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Ouvindo-o falar dessa
maneira, admiraram-se eles da sua resposta e, deixando-o, se retiraram. (S.
MATEUS, cap. XXII, vv. 15 a 22. - S. MARCOS, cap. XII, vv. 13 a 17.)
[2] Ninguém pode servir a dois senhores,
porque ou odiará a um e amará a outro, ou se prenderá a um e desprezará o
outro. Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon.” (Lucas, 16: 13.)