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DAR
E dá a qualquer que
te pedir; e, ao que tomar o que é teu, não lho tornes a pedir.
Jesus. (LUCAS, 6:30.)
O
ato de dar é dos mais sublimes nas operações da vida; entretanto, muitos homens
são displicentes e incompreensíveis na execução dele. Alguns distribuem esmolas
levianamente, outros se esquecem da vigilância, entregando seu trabalho a
malfeitores.
Jesus
é nosso Mestre nas ocorrências mínimas. E se ouvimo-lo recomendando estejamos
prontos a dar “a qualquer” que pedir, vemo-lo atendendo a todas as criaturas do
seu caminho, não de acordo com os caprichos, mas segundo as necessidades.
Concedeu
bem-aventuranças aos aflitos e advertências aos vendilhões. Certo, os
mercadores de má-fé, no íntimo, rogavam-lhe a manutenção do “status quo”, mas
sua resposta foi eloquente. Deu alegrias nas bodas de Caná e repreensões em
assembleias dos discípulos. Proporcionou a cada situação e a cada personalidade
o que necessitavam e, quando os ingratos lhe tomaram o direito da própria vida,
aos olhos da Humanidade, não voltou o Cristo a pedir- lhes que o deixassem na
obra começada.
Deu tudo o que se coadunava
com o bem. E deu com abundância, salientando-se que, sob o peso da cruz,
conferiu sublime compreensão à ignorância geral, sem reclamação de qualquer
natureza, porque sabia que o ato de dar vem de Deus e nada mais sagrado que
colaborar com o Pai que está nos céus.
MINHA
REFLEXÃO
O
Cristo nos ensinou a oferta incondicional. A ingratidão não era sua
preocupação, mesmo sabendo, de antemão, que seria vítima dela por parte de
todos os que receberam sua solicitude e confiança[1], exceção raríssima.
Devemos
dar com a alma de quem não tem nada, exceto o próprio pensamento e as virtudes já
alcançadas, o Amor de Deus e de seus filhos que já alcançaram a pureza
Espiritualidade. Por nossa vez, não podemos exigir amor, respeito e gratidão de
quem não alcançou a pureza espiritual, como nós.
Quando
nos tirarem o que alcançamos com o suor de nosso rosto, demonstremos o
desapego, até porque temos capacidade de reaver tudo o que nos tirarem. Sejamos
desapegados. Cobrar de quem nos deve, materialmente, é se instituir de dono de
algo que não levaremos para o plano espiritual. Se for um ato afetivo, também
não nos perturbemos o coração, se foi dado de coração. Deus nos Ama
infinitamente e vivemos respondendo com a ingratidão a um Pai infinitamente
solícito.
Devemos
dar com desapego, mesmo que o que dermos for de forma sacrificial, como a
senhora do gazofilácio[2].
Se
formos cerceados de nossa liberdade por atos injustos, que possamos aguardar o
momento da justiça de Deus, que chegará na hora certa. Perdoar incessantemente
é o nosso dever, mesmo que nos doa muito no estágio que nos encontramos. Com o
tempo, com os exercícios que Deus nos oferece, mais adiante, faremos tão
espontaneamente que nem nos sentiremos injuriados como o Cristo demonstrou
fazê-lo[3].
Que
Deus nos ajude.
Domício
[1] Vide
situações vividas com Judas e Pedro.
[2]
Estando
Jesus sentado defronte do gazofilácio, a observar de que modo o povo lançava
ali o dinheiro, viu que muitas pessoas ricas o deitavam em abundância. - Nisso,
veio também uma pobre que apenas deitou duas pequenas moedas do valor de dez
centavos cada uma. - Chamando então seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos
digo que esta pobre viúva deu muito mais do que todos os que antes puseram suas
dádivas no gazofilácio; - por isso que todos os outros deram do que lhes
abunda, ao passo que ela deu do que lhe faz falta, deu mesmo tudo o que tinha
para seu sustento. (Marcos, 12: 41 a 44. - Lucas, 21: 1 a 4.)
[3]
Aprendestes que foi dito:
“Amareis o vosso próximo e odiareis os vossos inimigos.” Eu, porém, vos digo:
“Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos
perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e
que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os
justos e os injustos. - Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a
vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos
irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem
outro tanto os pagãos?” (Mateus, 5: 43 a 47.)
- “Digo-vos que,
se a vossa justiça não for mais abundante que a dos escribas e dos fariseus,
não entrareis no reino dos céus.”(Mateus,.5: 20.)
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