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PROPRIEDADE
E o mancebo, ouvindo
esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.
Mateus, 19, 22.
O instinto de propriedade tem provocado grandes revoluções,
ensanguentando os povos. Nas mais diversas regiões do planeta respiram homens
inquietos pela posse material, ciosos de suas expressões temporárias e
dispostos a morrer em sua defesa.
Isso demonstra que o homem ainda não aprendeu a possuir.
Com esta argumentação, não desejamos induzir a criatura a
esquecer a formiga previdente, adotando por modelo a cigarra descuidosa. Apenas
convidamos, a quem nos lê, a examinar a precariedade das posses efêmeras.
Cada conquista terrestre deveria ser aproveitada pela alma,
como força de elevação.
O homem ganhará impulso santificante, compreendendo que só
possui verdadeiramente aquilo que se encontra dentro dele, no conteúdo
espiritual de sua vida. Tudo o que se relaciona com o exterior — como sejam:
criaturas, paisagens e bens transitórios — pertence a Deus, que lhos concederá
de acordo com os seus méritos.
Essa-realidade
sentida e vivida constitui brilhante luz no caminho, ensinando ao discípulo a
sublime lei do uso, para que a propriedade não represente fonte de inquietações
e tristeza, como aconteceu ao jovem dos ensinamentos de Jesus.
MINHA REFLEXÃO
Essa passagem evangélica é discutida no O Evangelho Segundo
o Espiritismo, cap. 16 (Não se pode servir a Deus e a Mamon). Temos posse, mas
não é nossa. Nada é nosso, senão as aquisições espirituais, conforme Emmanuel
nos lembra nessa sua mensagem.
A riqueza pode ser fruto de nosso suor, mas é tão somente
resultado de nossa riqueza espiritual que deve estar a serviço de Deus. Afinal,
ela não passa de instrumento de evolução, como toda matéria que possamos estar
em contato quando encarnados. Ela, como a miséria, é uma prova muito difícil e
arriscada, como diz A. Kardec, em O Evangelho. Segundo o Espiritismo, cap. 16,
item 7:
Sem
dúvida, pelos arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela
fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais
perigosa do que a miséria.
Então, não devemos pedir a riqueza, pensando em conforto,
sonhando em ajudar os mais pobres, pois o resultado disso pode ser o
inesperado. Ela poderá nos tentar a fazer o que não queremos, pois ela é poder.
O “ter” em nossa vida pode significar o que não queremos “ser”.
Entretanto, se amealharmos a riqueza, sem ter pedido, já
encarnado, pois, em verdade, em geral, os ricos, podem ter pedido antes de
reencarnar, que sejamos pródigos na caridade, sem esbanjamento, com
objetividade.
Contudo, devemos lembrar que para os talentosos a riqueza
material é uma consequência natural e por isso, todo aquele que enriquece deve
se responsabilizar pelos resultados de seus talentosos. Como nos esclarece A.
Kardec (Idem, item 7),
Quando
Jesus disse ao moço que o inquiria sobre os meios de ganhar a vida eterna:
"Desfaze-te de todos os teus bens e segue-me", não pretendeu,
decerto, estabelecer como princípio absoluto que cada um deva despojar-se do
que possui e que a salvação só a esse preço se obtém; mas, apenas mostrar que o
apego aos bens terrenos é um obstáculo à salvação.
Então, devemos, ao enriquecer, tomarmos o cuidado para não
nos apropriarmos do que não é verdadeiramente nosso. Pelo contrário, devemos
nos revestir da condição de administrador das coisas de Deus, pois conforme
Emmanuel, nessa mensagem, aqui refletida, “Tudo o que se relaciona com o
exterior — como sejam: criaturas, paisagens e bens transitórios — pertence a
Deus, que lhos concederá de acordo com os seus méritos”,
Mas o que é verdadeiramente nosso? Segundo o Espírito
Pascal (Idem, item 9),
O
homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo.
Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece.
Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse
real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que
é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os
conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que
ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro
mundo do que neste.
Bem compreendido, seremos felizes, pobres ou ricos, desde
que saibamos ser caridosos incondicionalmente. Se a religião não salva, muito
menos a pobreza ou a riqueza.
Então, vale deixar a máxima do Espiritismo: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.
Que Deus nos ajude.
Domício.
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