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ENSEJO AO BEM
Jesus, porém, lhe
disse: Amigo, a que vieste?
Então, aproximando-se,
lançaram mão de Jesus e o prenderam.
MATEUS, 26: 50.
É significativo observar o
otimismo do Mestre, prodigalizando oportunidades ao bem, até ao fim de sua
gloriosa missão de verdade e amor, junto dos homens.
Cientificara-se o Cristo,
com respeito ao desvio de Judas, comentara amorosamente o assunto, na
derradeira reunião mais íntima com os discípulos, não guardava qualquer dúvida
relativamente aos suplícios que o esperavam; no entanto, em se aproximando, o
cooperador transviado beija-o na face, identificando-o perante os verdugos, e o
Mestre, com sublime serenidade, recebe-lhe a saudação carinhosamente e indaga:
Amigo, a que vieste?
Seu coração misericordioso
proporcionava ao discípulo inquieto o ensejo ao bem, até ao derradeiro
instante.
Embora notasse Judas em
companhia dos guardas que lhe efetuariam a prisão, dá-lhe o título de amigo.
Não lhe retira a confiança do minuto primeiro, não o maldiz, não se entrega a
queixas inúteis, não o recomenda à posteridade com acusações ou conceitos menos
dignos.
Nesse gesto de inolvidável
beleza espiritual, ensinou-nos Jesus que é preciso oferecer portas ao bem, até
à última hora das experiências terrestres, ainda que, ao término da derradeira
oportunidade, nada mais reste além do caminho para o martírio ou para a cruz
dos supremos testemunhos.
MINHA REFLEXÃO
Nosso Mestre, sabedor do que
ia passar; consciente do estágio evolutivo de cada um de seus discípulos;
crente que iam continuar sua obra, mesmo depois do abandono na hora extrema,
deu o exemplo máximo de compreensão e superioridade moral.
Seu móvel sempre foi cuidar
para que todos, indistintamente, dessem curso ao seu processo evolutivo; e, na
qualidade do Médico das almas, inclusive de seus algozes, ofereceu a face para
o beijo e chamou de amigo o seu traidor inconsciente do mal a que estava
aliado, com intenções que não era a morte de seu Mestre.
Devemos aprender que o bem
não tem hora, não tem lugar, é para qualquer pessoa. Devemos reconhecer que
podemos ter estado naquele sítio, nas últimas horas do Mestre e que podemos ter
vibrado pela sua morte e optado por Barrabás[1];.
Se quisermos ser aprendizes
do Mestre, não podemos (e sei que ainda ficaremos) ficar injuriados com a
incompreensão, com a ingratidão, calúnias, com a traição e abandono dos que
mais entendemos ser amigos ou alvo de nossa atenção primeira (Mateus, 5: 5 à
20, 38 à 48).
Que Deus nos ajude.
Domício.
Olavo Bilac
In:
Parnaso de Além-Túmulo (Chico Xavier)
Sobre
a fronte da turba há um sussurro abafado.
A
multidão inteira, ansiosa se congrega,
Surda
à lição do amor, implacável e cega,
Para
a consumação dos festins do pecado.
“Crucificai-o!”
– exclama... Um lamento lhe chega
Da
Terra que soluça e do Céu desprezado.
“Jesus
ou Barrabás?” – pergunta, inquire o brado
Da
justiça sem Deus, que trêmula se entrega.
Jesus!
Jesus!... Jesus!... – e a resposta perpassa
Como
um sopro cruel do Aquilão da desgraça,
Sem
que o Anjo da Paz amaldiçoe ou gema...
E
debaixo do apodo e ensanguentada a face,
Toma
da cruz da dor para que a dor ficasse
Como
a glória da vida e a vitória suprema.
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