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NÃO CRER
Mas quem não crer será condenado.
Jesus. (Marcos, 16: 16.)
Os que não creem são os que ficam. Para eles, todas as
expressões da vida se reduzem a sensações finitas, destinadas à escura voragem
da morte.
Os que alçam o coração para a vida mais alta estão salvos.
Seus dias de trabalho são degraus de infinita escada de luz. A custa de
valoroso esforço e pesada luta, distanciam-se dos semelhantes e, apesar de
reconhecerem a própria imperfeição, classificam a paisagem em torno e
identificam os caminhos evolutivos. Tomados de bom ânimo, sentem-se na tarefa
laboriosa de ascensão à montanha do amor e da sabedoria.
No entanto, os que não creem, limitam os próprios
horizontes e nada enxergam senão com os olhos destinados ao sepulcro,
adormecidos quanto à reflexão e ao discernimento.
Afirmou Jesus que eles se encontram condenados.
À primeira vista, semelhante declaração parece em desacordo
com a magnanimidade do Mestre.
Condenados a que e por quem?
A justiça de Deus conjuga-se à misericórdia e o inferno sem-fim
é imagem dogmática.
Todavia, é imperioso reconhecer que quantos não creem, na
grandeza do próprio destino, sentenciam a si mesmos às mais baixas esferas da
vida. Pelo hábito de apenas admitirem o visível, permanecerão beijando o pó, em
razão da voluntária incapacidade de
acesso aos planos superiores, enquanto os outros caminham para a certeza da
vida imortal.
A crença é lâmpada amiga, cujo clarão é mantido pelo
infinito sol da fé. O vento da negação e da dúvida jamais consegue apagá-la.
A
descrença, contudo, só conhece a vida pelas sombras que os seus movimentos
projetam e nada entende além da noite e do pântano a que se condena por
deliberação própria.
MINHA REFLEXÃO
Karl Marx afirmou que a religião é o ópio do povo. Uma
afirmação pretensiosa de que a religião teria tão somente um efeito aliviador
das dores que as pessoas sofrem, afastando-as da luta por melhoria de sua
qualidade de vida, submetendo-se a exploração dos mais fortes. A crença em
preceitos religiosos vai além disso. Ela dá a compreensão da melhor relação que
devemos ter com o nosso semelhante. Favorece um horizonte e, de fato, norteia a
vida no sentido de um estado de espírito elevado, acima dos interesses
egoísticos, nos alçando a planos superiores da vida, para além dessa vida
material que é muito útil, mas limitada a ser um meio para galgarmos nossa
felicidade.
Crer é um ato de fé. Quem tem fé vai ao longe,
pois acredita num projeto de vida e sabe os meios para realiza-lo[1]. A fé é a mãe da esperança
e da caridade, conforme o Codificador do Espiritismo nos esclareceu.[2] Então crer é uma condição
para adquirir a felicidade. Mas precisamos ter uma fé raciocinada, que nos
empurra para frente e para o alto. Não podemos crer apenas na palavra, mas no
real e objetivo valor do que ela representa. Daí Allan Kardec ter nos deixado a
seguinte máxima:
A fé raciocinada, por se
apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê,
porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que
não se dobra. Fé inabalável só o é a que
pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade. Idem,
item 7)
Então, quando o Cristo disse que “Mas quem
não crer será condenado”, conforme
Emmanuel, não quis dizer que estaríamos irremediavelmente condenados ao fogo do
inferno, mas à condição de infeliz, temporiamente, por não conseguir ver além dos
interesses imediatos que a vida material oferece. E, portanto, influenciando,
em sua volta, um clima de apego, de desconfiança e autodefesa, se protegendo de
inimigos inexistentes.
Que sejamos crentes na vida, nos seus objetivos
maiores que nos fará Espíritos melhores.
Que Deus nos ajude.
Domício
[1]
3. Noutra acepção, entende-se como fé a
confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir
determinado fim. Ela dá uma espécie de lucidez que permite se veja, em
pensamento, a meta que se quer alcançar e os meios de chegar lá, de sorte que
aquele que a possui caminha, por assim dizer, com absoluta segurança. Num como
noutro caso, pode ela dar lugar a que se executem grandes coisas (ALLAN
KARDEC in O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 3).
[2]
A esperança e a caridade são corolários da fé e formam com
esta uma trindade inseparável. Não é a fé que faculta a esperança na realização
das promessas do Senhor? Se não tiverdes fé, que esperareis? Não é a fé que dá
o amor? Se não tendes fé, qual será o vosso reconhecimento e, portanto, o vosso
amor?
(Idem, item 11)
Minha reflexão:
ResponderExcluirQuem não crê, se destina as satisfações da vida material, está condenado a viver na materialidade. Essa condenação é limitada, uma vez que vai até onde a criatura permitir, vai até que se abram seus olhos e vejam que a verdadeira felicidade vai além da vida terrena. Crer está diretamente ligada a vida espiritual. Crer é ter fé. A Doutrina Espírita nos ensina a fé raciocinada. Por isso a conscientização do estudo, para que haja compreensão. Aquilo que é compreendido, não há dúvidas. A fé nos possibilita um caminhar mais seguro. Sabemos que as dificuldades são processos que nos levam ao aprendizado e ao fortalecimento. Com fé conseguimos almejar dias melhores. Sabemos que tudo passa.
Como o poeta baiano disse: "Anda com fé eu vou, que a fé não costuma faiá". Com fé seguimos a marcha do dia a dia renovando a esperança na vida futura, que certamente será melhor com aquilo que estamos plantando agora. A fé somada a ações de caridade, nos garante o coração tranquilo e a felicidade certeira.
Olá, Sheila. Você fez uma reflexão muito aprofundada do sentido de crer.
ResponderExcluirGrato pelo colaborador comentário!!
Paz e alegrias!! E muita saúde!!