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PODERES OCULTOS
E onde quer que ele
entrava, fosse nas cidades, nas aldeias ou nos campos, depunham os enfermos nas
praças e lhe rogavam que os deixasse tocar ao menos na orla de seu vestido; e
todos os que nele tocavam, saravam.
MARCOS,
6: 56.
Não raro, surgem nas
fileiras espiritualistas estudiosos afoitos a procurarem, de qualquer modo, a
aquisição de poderes ocultos que lhes confira posição de evidência. Comumente,
em tais circunstâncias, enchem-se das afirmativas de grande alcance.
O anseio de melhorar-se, o
desejo de equilíbrio, a intenção de manter a paz, constituem belos propósitos;
no entanto, é recomendável que o aprendiz não se entregue a preocupações de
notoriedade, devendo palmilhar o terreno dessas cogitações com a cautela
possível.
Ainda aqui, o Mestre Divino
oferece a melhor exemplificação.
Ninguém reuniu sobre a Terra
tão elevadas expressões de recursos desconhecidos quanto Jesus. Aos doentes,
bastava tocar-lhe as vestiduras para que se curassem de enfermidades dolorosas;
suas mãos devolviam o movimento aos paralíticos, a visão aos cegos. Entretanto,
no dia do Calvário, vemos o Mestre ferido e ultrajado, sem recorrer aos poderes
que lhe constituíam apanágio divino, em benefício da própria situação. Havendo
cumprido a lei sublime do amor, no serviço do Pai, entregou-se à sua vontade,
em se tratando dos interesses de si mesmo. A lição do Senhor é bastante
significativa.
É compreensível que o
discípulo estude e se enriqueça de energias espirituais, recordando-se, porém,
de que, antes do nosso, permanece o bem dos outros e que esse bem, distribuído
no caminho da vida, é a voz que falará por nós a Deus e aos homens, hoje ou
amanhã.
MINHA REFLEXÃO
As aquisições realizadas por
nós nunca devem servir de motivo para nos enaltecer, pois o nosso progresso é
proporcional ao bem que expendemos aos outros por tudo que conseguimos
conquistar com a ajuda de Deus e de todos aqueles que jornadeiam conosco,
trocando experiências e nos ajudando a nos tornar melhor, seja espiritualmente
ou profissionalmente.
Jesus Cristo, nunca usou
seus poderes para se exibir. Por duas vezes foi tentado. Uma, foi aquela em que
foi tentado pelo diabo[i], quando passou 40 dias no
deserto, em jejum (Lucas, 4: 1-13). Outra, como lembra Emmanuel, quando estava
no madeiro e provocaram. Vejamos como se deu, em Mateus (27: 39-44):
Os transeuntes o insultavam meneando
suas cabeças e dizendo: ó tu que destróis o Santuário, edificando-o em três
dias, salva a ti mesmo; se és o filho de Deus, desce da cruz!
De forma semelhante, os sumos sacerdotes
com os escribas e anciãos, zombando, diziam: Salvou outros, a si mesmo não pode
salvar. É Rei de Israel! Desça, agora, da cruz e creremos nele. Confiou em
Deus; se [Deus] quiser, [que] o livre agora, pois disse: Sou filho de Deus. Do
mesmo [modo], também os assaltantes que foram crucificados com ele, o
injuriavam.
Então, devemos tomar como
exemplo, nosso Senhor Jesus Cristo que tinha infinitos poderes, mas que só os
usou para ajudar o próximo e nunca a Ele mesmo.
De certo que em nossa
trajetória, por estarmos ainda em evolução, diferentemente do Cristo, que já
era um Espírito Puro, devemos usar nossas aquisições para o nosso proveito, mas
nunca esquecendo que somos frutos da relação com o semelhante, seja encarnado
ou desencarnado. Daí pensaremos sempre na solidariedade quando nos sentirmos
suficientemente poderosos para ajudar alguém.
Que Deus nos ajude.
Domício.
[i]
Aquele de desune (inspirando
ódio, inveja, orgulho); caluniador, maledicente. Vocábulo derivado do verbo
“diaballo” (separar, desunir; atacar, acusar; caluniar; enganar), do qual
deriva também o substantivo “diabole” (desavença, inimizade; aversão,
repugnância; acusação; calúnia. (DIAS, Haroldo Dutra (Trad.). O novo
testamento. 1 ed. Brasília: FEB, 2013).
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