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AGUILHÕES
Duro é para ti recalcitrar
contra o aguilhão.
Jesus. (Atos, 9: 5.)
O caminho evolutivo está sempre repleto de aguilhões.
De outro modo, não enxergaríamos a porta redentora.
Entrega-se Deus aos filhos da Criação inteira,
reparte com todos os tesouros de seu amor infinito, estimula-os a se elevarem,
através de mil modos diferentes; entretanto, existem círculos numerosos como a
Terra, em que as criaturas não se apercebem dessas realidades gloriosas e
paralisam a marcha, dormindo no leito da ilusão.
Perante tal inércia, os mensageiros da Providência, aos
quais se confiou a tarefa de iluminação dos que estacionam na sombra, promovem
recursos para que se verifique o despertar.
Cientes de que Deus dá tudo — a vida, os caminhos, os bens
infinitos, os gênios inspiradores e só pede às criaturas se lhe dirijam aos
braços paternais — esses divinos emissários organizam os aguilhões, por amor
aos seus tutelados.
Nesse programa, criou Jesus os mais nobres incitamentos,
para a esfera terrestre. A riqueza e a pobreza, a fealdade e a formosura, o
sofrimento e a luta são aguilhões ou oportunidades instituídos pelo Cristo, a
benefício dos homens.
Cada existência e cada pessoa tem a sua dificuldade
particular, simbolizando ensejo bendito.
Analisa a tua vida, situa teus aguilhões e não te voltes
contra eles.
Se um
espírito da grandeza de Paulo de Tarso não podia recalcitrar, imagina o que se
pedirá do nosso esforço.
MINHA REFLEXÃO
Não podemos fugir de nossos aguilhões[1], diz Emmanuel, pensando na
passagem evangélica envolvendo Paulo, o apóstolo, Espírito já bem elevado, mas
que sofreu muito depois que se converteu ao Cristianismo. Nessa passagem, Jesus
adverte Saulo a não ir de encontro ao que era superior a ele. Diz, Emmanuel, se
Paulo passou por vários aguilhões, que dirá vocês.
Nossos aguilhões estão em nossa porta estreita[2] que pouco querem
ultrapassá-la, e o caminho que a ela conduz também os tem. São nossas provas
(incentivos, estímulos) a nos dirigir para a perfeição.
Em geral, o que fazemos é fugir dos aguilhões; mas eles,
para onde formos, estarão, pois nosso planeta é de provas e expiações.
Ou seja, devemos sofrer bem, como diz o Espírito Lacordaire
em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. V, item 18:
Quando o
Cristo disse: "Bem-aventurados os aflitos, o reino dos céus lhes
pertence", não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que sofrem
todos os que se encontram na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a
palha. Mas, ah! poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem
suportadas podem conduzi-los ao reino de Deus. O desânimo é uma falta. Deus vos
recusa consolações, desde que vos falte coragem. A prece é um apoio para a
alma; contudo, não basta: é preciso tenha por base uma fé viva na bondade de
Deus. Ele já muitas vezes vos disse que não coloca fardos pesados em ombros
fracos. O fardo é proporcionado às forças, como a recompensa o será à
resignação e à coragem. Mais opulenta será a recompensa, do que penosa a
aflição. Cumpre, porém, merecê-la, e é para isso que a vida se apresenta cheia
de tribulações.
Então, que não recalcitremos contra nossos aguilhões, isto
é, que saibamos sofrer bem nossas provas e expiações.
Que Deus nos ajude.
Domício.
[1][Aguilhão: ponta fina, aguda; aguilhão, ferrão; pontada, estímulo, incentivo
(sentido figurado). Trata-se de uma vara bastante pontuda utilizada para atiçar
o boi no arado. (DIAS, Haroldo Dutra. O Novo Testamento (tradução). 1. ed. 2.
imp. Brasília: FEB, 2013.
[2]
Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta da perdição e espaçoso
o caminho que a ela conduz, e muitos são os que por ela entram. - Quão pequena
é a porta da vida! quão apertado o caminho que a ela conduz! e quão poucos a
encontram! (Mateus, 7: 13- 14.). Vide interpretação Allan Kardec em O Evangelho
Segundo o Espiritismo, cap. 18, item 5.
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